terça-feira, 5 de maio de 2009

Contos de Alvaz, o Lobo

Maverick branco, 60 km/h, pista de volta para casa. Toca Audioslave no som do carro, ela sorria vendo algumas fotos numa camera, ele sorria olhando para a pista. No banco de trás haviam uma case de violão e uma bolsa repleta de chaveiros pendurados, eles voltavam de um passeio a uma cidade próxima, e já era noite. A janela estava aberta, o que fazia os longos cabelos da garota ricochetearem dentro do carro, espalhando seu cheiro.

O rapaz parou o carro em frente a uma casa de portão escuro, ambos desceram, a garota tirou umas chaves de sua incomumente enfeitada bolsa, abriu o portão e eles entraram.

- Viajaram? - perguntou o rapaz, ao passar por uma porta mais a frente.
- Todos - ela respondeu.

Ela ligou a televisão e disse a ele para se sentar, indo para a cozinha. Ele sentou-se mas pôs-se a olhar umas fotos num móvel à sua esquerda, de toda a família. Cada detalhe naquela casa o fazia se sentir extremamente confortável, feliz, esperançoso.

- Refrigerante? - gritou ela da cozinha
- Humrum - respondeu

Uma das coisas que ele mais gostava era esse cheiro de quando ela ia para a cozinha. Na verdade ela nem era muito boa cozinheira, e era meio atrapalhada, mas fazia tudo com um capricho enorme. Ouviu-se mais um barulho e ela apareceu vindo da cozinha, carregando um prato com dois cachorros-quantes e, de um jeito atrapalhado, duas latas de Sprite.

Ele sorriu para ela, ela sorriu de volta, pôs o prato e os refrigerantes em cima de um móvel baixo de madeira de frente ao sofá e sentou-se ao lado dele. Ela juntou as pernas, pôs as mãos nos joelhos e fez uma careta intencional de envergonhada, olhando para ele.

- Que foi? - ele perguntou, fazendo também uma careta engraçada.

Ela apontou com a cabeça para os cachorros-quentes, ele riu e pegou um, e passou outro para ela.

- Espera aí! - ela se levantou às pressas e pôs um DVD. Era um seriado que eles gostavam. Ela deu um sorriso enorme e voltou a comer seu cachorro-quente.

O DVD acabou, ela foi levar o prato para a cozinha, e ele se levantou e caminhou até uma porta de vidro através da qual se dava para ver a piscina. Sentou-se em outro sofá, mais velho, próximo à porta e pôs-se a observar.

Ela voltou, sentou-se no seu colo e o abraçou, e ele a abraçou de volta. Ele pôs suas maõs nas costas dela, cobertas pelos seus cabelos, que desciam passando da cintura com um fino manto dourado. A beijou e ela o abraçou ainda mais forte. Ele a segurou, e continuaram o beijo por mais algum tempo. Ele pensava em como era bom o cheiro dela.
Novamente se abraçaram por um tempo, até que ele se levantou.

- Não queria te deixar sozinha aqui, mas tenho que ir.
- Não tem problema - ela respondeu com um pouco de tristeza - Você vem amanhã?
- Bem cedo. Pode esperar - ele respondeu sorrindo.

Ela também sorriu e foi até ele para o abraçar. Ele a beijou na testa e a abraçou fortemente. Andaram até a porta juntos, então ele fechou o portão e gritou antes de entrar no carro:

- Até amanhã!
- Até! - ela respondeu

Ele entrou no carro e seguiu para uma direção oposta à de sua casa. O motivo ele já sabia, ela talvez sim, talvez não. Pegou a estrada. Após uns cinco minutos de estrada ele saiu da pista, entrando em um aglomerado de árvores à direita. Dirigiu mais uma pouco para dentro da mata.

Parou o carro, desceu, tirou os sapatos, o que estava em seus bolsos e a camisa, deixando no carro. Andou alguns metros, até que parou, olhou para o céu onde estava a lua, correu e deu um salto para dentro da mata, quase um mergulho. Ouviu-se um alto estalido.

Pêlo cinzento, era pouco maior que um cavalo.
Novamente corria solitário pela floresta escura. Alvaz, o lobo.

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