quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O Fim (Parte III)

-

Os dentes corroem
A pele que corta
E o frio me entorta
De medo ou de dor

Cena de histeria
Em plena agonia
Eu sinto alegria
Eu sinto torpor

Eu sinto meu sangue
Correndo nas veias
Eu vou noite adentro
No meu cobertor.

-

O Fim (Parte II)

-

Frio. Frio, muito frio. Tudo continuava escuro, e agora estava frio, um frio segurando todo o seu corpo. Ele não conseguia abrir os olhos, nem conseguia sentir sua respiração. Fez um esforço enorme mas não conseguiu mover um dedo.

Novamente se esforçou, e dessa vez sentiu uma dor lancinante em seu tórax, e todo o seu corpo estremeceu, o que fez com que seus olhos abrissem. Ele pôde ouvir um som distante, que ele reconheceu como chuva.

Mesmo com os olhos abertos, o lugar estava escuro demais para sua visão. Ainda estava muito frio e ele não sentia sua respiração, nem conseguia se mover. O que teria acontecido? Onde estaria? Sua consciência voltava a funcionar e junto com ela, percorreu pelo seu corpo um tremor, tão forte que ele se sentiu debater.

Nesse instante, seus punhos se fecharam e seus braços de flexionaram, mas quando fez força para levantar, sentiu uma dor absurda em seu tórax, o que o fez cair deitado novamente. Parou e passou algum tempo tentando enxergar o teto, e conseguiu.

Não identificou o lugar onde estava, mas percebeu que estava deitado em algo frio, a aproximadamente um metro e meio do chão, algo como uma mesa. Continuou olhando para cima, levou sua mão ao tórax.

Não havia nada. Sentiu algo diferente, então percebeu que sua costelas caíam para os lados e seu tórax estava completamente aberto. sua mão voltou cheia de sangue.

Mesmo sentindo muita dor, se esforçou para olhar o que seria aquilo, se sustentando pelos cotovelos. Inclinou a cabeça, gemendo, e viu que seu tórax estava realmente aberto, viu orgãos e costelas. Não suava, nem chorava.

Tocou as costelas e tentou colocá-las no lugar, mas antes que as pusesse, observou que seu interior era sem vida. Seu coração não bombeava sangue, nem seus pulmões tinham movimento. Fechou o tórax e caiu de volta, deitado.

Se pôs a observar novamente o teto e a sala e viu que haviam várias outras mesas como aquela, mas vazias, e ele ficou a esperar por alguma coisa, alguém, ele estava perdido e aterrorizado. Pôs as mãos em seus peito, e novamente se assustou ao ver que não havia mais ferimento.

Tentou se mexer, se contorcendo, e caiu no chão, de bruços. Segurou na mesa e se levantou com dificuldade. estava num necrotério. Havia alguns cadáveres em mesas mais ao fundo, e parecia madrugada, por não parecia haver mais ninguém, vivo, naquele lugar.

Estava em pânico e não entendia nada. Cambaleou até um lençol, usado para cobrir os cadáveres, e se enrolou, pois estava sem roupa alguma.

A chuva estava forte, o barulho grande, e o garoto já estava completamente sujo de lama e ainda estava apenas com o lençol. Vinha andando do fim da rua deserta e escura, já via o prédio em que morava. Ele tremia, talvez de frio, talvez de desespero. Vinha soluçando e cambaleando, até que avistou o velho e barbudo vigia do prédio. ele o olhava com olhos arregalados e boquiaberto, tentando pronunciar alguma reza. Ao ver que o garoto se aproximava, andou apressado, esbarrando em coisas e mudo para uma dispensa.

O garoto fcou ainda mais desesperado, pois aquele homem o conhecia desde sua infância. Ainda com a vista embaçada, foi até o interfone, na calçada de paralelepípedos.

- MÃE! EU TÔ VIVO, MÃE!

Começaram a escorrer lágrimas em seu rosto, enquanto ele continuava a tocas o interfone. Ele via o carro de seu pai na garagem. Ele se sentia qu eo haviam tirado de seu mundo.

- MÃE! - soluçava cada vez mais forte.

Viu uma luz ser acesa no seu apartamento, então ouviu um grito feminino. As lágrimas embaçavam sua vista, junto com a chuva, até que ele tombou.



-

terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Fim (Parte I)

-


As plantas mal cortadas roçavam em suas canelas. Sem perceber, ele já corria. Podia ouvir as passadas e os latidos de cães às suas costas, ele já estava perto de casa, e não queria parar. Corria por dentro de um terreno baldio, já era muito tarde e ele podia ver muito pouco naquela escuridão, mas não parava de correr.

Situações assim não lhe eram com uns, sua vida era bastante tediosa, e seu coração parecia estar para pular pela sua garganta. Sua asma já começava a aparecer, e o lugar estava ficando lamacento por causa da chuva que começava. Os latidos continuava a se aproximar, e ele não parava de correr.

Conseguiu sair para a rua, e depois de algumas passadas já conseguia ver a matilha que o perseguia. A rua estava molhada e escura, a chuva ficou mais forte, um relâmpago iluminou a noite e apagou, deixando um som trovejante que rasgou seus pensamentos. Não parou de correr, e dobrou uma esquina à esquerda.

Para sua surpresa, naquela rua havia outro terreno baldio, e um homem sentado no meio fio. O homem parecia impaciente, contando um bolo de notas em suas mãos, algumas caindo no asfalto molhado.

Quando o viu, o homem imediatamente levantou, deixando cair parte do dinheiro e , tremendo, puxou alguma coisa de dentro do blusão. Agora se que o homem ainda era novo, e seu olhos pareciam desfocados.

- Pra quê toda essa pressa?! - perguntou o homem, nervoso, quase gaguejando.

O garoto notou que o homem lhe apontava um revólver, de aparência antiga. Ele nunca havia visto uma arma de fogo de perto antes, e essa não seria a melhor ocasião. Parou, e percebeu que a matilha continuava em seu encalço. O homem pareceu perceber, e isso o deixou ainda mais nervoso.

- O que você tem aí?! - o homem gritou, ficando cada vez mais nervoso.

O garoto estava paralisado.

- N-Nada-

E era verdade. Ele estava voltando da casa de um amigo e não levava nada com ele. Trovejou e relampegou ferozmente, o que deixou o clima ainda mais tenso.

- O QUE VOCÊ TEM AÍ?! - o homem gritou ainda mais nervoso.

A essa altura os cães já dobravam a esquina. Os olhos do assaltante se arregalaram e se ouviu um disparo. Uma dor atravessou seu peito e tudo escureceu.

Ele ouviu um rugido. Novamente uma dor enorme, mas não conseguia se mexer, e todos os seus sentidos apagaram,

O fim.


Pedro e o Lobo

-



- Ela está lendo.
- Não sei... O que é aquele anel no dela?

- Seria um anel de noivado.

- Então ela tem namorado?


Não houve resposta.


- Deve ser só uma brincadeira. Eu deveria desistir?

- Por enquanto apenas guarde suas coisas. A sineta está pra tocar.


Começou a guardar suas coisas na mochila e imediatamente a sineta tocou. Ele se dirigiu do corredor lotado à rua deserta, onde começou a andar mais lentamente. Não havia sol, estava nublado, quase chovia.


- Talvez seja melhor não forçar nada por enquanto. - disse o rapaz.

- Mantenha postura. - respondeu seu companheiro.

- A voz dela é tão doce...


Andaram mais um pouco. O rapaz ia olhando para o chão e pensando. Seu amigo ia pulando pelos postes e voltando, cheirando algumas pedras. Folhas voavam ao vento.


- E o que vai fazer quanto às notas?

- Você bem que podia me ajudar. - disse o rapaz.

- Não estou aqui pra isto.

- Mas nada o impede.

- Pedro...

- Ok.



-

domingo, 22 de novembro de 2009

Contos de Lulf, o Feliz

Estávamos nós, pálidos e imóveis sob a luz da lua, deitados em nossa cama de lençóis de nosso quarto sem teto. Havia o som do vento, o som do seu coração e o som do meu coração, e assistíamos as estrelas e o dançar das frias nuvens enquanto sua orelha quente descansava em meu peito. Nossa Terra do Nunca particular.

A lua é um espetáculo que acontece todas as noites. Está lá, noite após noite, porém nunca perde seu deslumbre, nunca deixa de ser fantástica, enigmática. Nós, homens, tendemos a nos acostumar com os fenômenos, porém, a lua é algo que nunca será apenas comumente bela.

A lembrar dos barcos e piratas que infestavam nossa juventude, e a lembrar de quantos sonhos se formaram e quantos outros se quebraram com a triste chegada de nossa maturidade. Poderíamos dizer que em meio ao caos se pode achar abrigo? Eu a achei.

Enquanto observávamos o céu como um lençol negro que se extendia aos limites da visão, os animais nos observavam, as folhas das grandes árvores ruflavam ao vento. Era um som perfeitamente ritmado e assustador. Por isso agradável. O tipo de som que, em conjunto com o forte vento que nos arrepiava, fazia subir um frio na espinha.

Se ouviu um uivo muito próximo.

Ainda mais forte ficou o vento, fazendo redemoinhos a nossa volta, e fazendo todas as folhas caídas subirem, rodopiando, levantando também seus cabelos. Você me abraçou forte e eu a segurei, sem o compromisso de soltar.

-


por Orpheus




-



Não sabia se isso dava pra fazer um conto. Mas, tá aí.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Contos de Lulf, o Feliz

Às vezes acordava ao lado dela. Quando era feriado ele a levava a algum parque, às vezes viajava. Ele sabia que em sua vida não poderia ser mais feliz do que quando acordava e via aquele rosto puro de anjo, e a cor viva de seus cabelos espalhados pelo travesseiro.

Ele vestia uma camiseta regata branca, jogava o case do violão no banco traseiro do jipe e a observava vir andando, que em sua fértil imaginação, parecia flutuar. Os cachorros vinham pulando atrás dela, e mesmo depois de tanto tempo, ele ainda sentia uma arrepio toda vez que a via.

O husky, Anjo, vinha no banco de trás junto ao violão, e ele pegava a estrada em meio aos vivos campos verdes. Ligava o som, tocava Beirut, e ao seu lado cabelos esvoaçavam, como ondas perfeitas, de uma figura angelical.

Por tanta coisa haviam passado...

Ela sorria para ele, e no momento era tudo o que importava. O cabo da espada brilhava debaixo do banco.

-

por Orpheus

terça-feira, 5 de maio de 2009

Contos de Alvaz, o Lobo

Maverick branco, 60 km/h, pista de volta para casa. Toca Audioslave no som do carro, ela sorria vendo algumas fotos numa camera, ele sorria olhando para a pista. No banco de trás haviam uma case de violão e uma bolsa repleta de chaveiros pendurados, eles voltavam de um passeio a uma cidade próxima, e já era noite. A janela estava aberta, o que fazia os longos cabelos da garota ricochetearem dentro do carro, espalhando seu cheiro.

O rapaz parou o carro em frente a uma casa de portão escuro, ambos desceram, a garota tirou umas chaves de sua incomumente enfeitada bolsa, abriu o portão e eles entraram.

- Viajaram? - perguntou o rapaz, ao passar por uma porta mais a frente.
- Todos - ela respondeu.

Ela ligou a televisão e disse a ele para se sentar, indo para a cozinha. Ele sentou-se mas pôs-se a olhar umas fotos num móvel à sua esquerda, de toda a família. Cada detalhe naquela casa o fazia se sentir extremamente confortável, feliz, esperançoso.

- Refrigerante? - gritou ela da cozinha
- Humrum - respondeu

Uma das coisas que ele mais gostava era esse cheiro de quando ela ia para a cozinha. Na verdade ela nem era muito boa cozinheira, e era meio atrapalhada, mas fazia tudo com um capricho enorme. Ouviu-se mais um barulho e ela apareceu vindo da cozinha, carregando um prato com dois cachorros-quantes e, de um jeito atrapalhado, duas latas de Sprite.

Ele sorriu para ela, ela sorriu de volta, pôs o prato e os refrigerantes em cima de um móvel baixo de madeira de frente ao sofá e sentou-se ao lado dele. Ela juntou as pernas, pôs as mãos nos joelhos e fez uma careta intencional de envergonhada, olhando para ele.

- Que foi? - ele perguntou, fazendo também uma careta engraçada.

Ela apontou com a cabeça para os cachorros-quentes, ele riu e pegou um, e passou outro para ela.

- Espera aí! - ela se levantou às pressas e pôs um DVD. Era um seriado que eles gostavam. Ela deu um sorriso enorme e voltou a comer seu cachorro-quente.

O DVD acabou, ela foi levar o prato para a cozinha, e ele se levantou e caminhou até uma porta de vidro através da qual se dava para ver a piscina. Sentou-se em outro sofá, mais velho, próximo à porta e pôs-se a observar.

Ela voltou, sentou-se no seu colo e o abraçou, e ele a abraçou de volta. Ele pôs suas maõs nas costas dela, cobertas pelos seus cabelos, que desciam passando da cintura com um fino manto dourado. A beijou e ela o abraçou ainda mais forte. Ele a segurou, e continuaram o beijo por mais algum tempo. Ele pensava em como era bom o cheiro dela.
Novamente se abraçaram por um tempo, até que ele se levantou.

- Não queria te deixar sozinha aqui, mas tenho que ir.
- Não tem problema - ela respondeu com um pouco de tristeza - Você vem amanhã?
- Bem cedo. Pode esperar - ele respondeu sorrindo.

Ela também sorriu e foi até ele para o abraçar. Ele a beijou na testa e a abraçou fortemente. Andaram até a porta juntos, então ele fechou o portão e gritou antes de entrar no carro:

- Até amanhã!
- Até! - ela respondeu

Ele entrou no carro e seguiu para uma direção oposta à de sua casa. O motivo ele já sabia, ela talvez sim, talvez não. Pegou a estrada. Após uns cinco minutos de estrada ele saiu da pista, entrando em um aglomerado de árvores à direita. Dirigiu mais uma pouco para dentro da mata.

Parou o carro, desceu, tirou os sapatos, o que estava em seus bolsos e a camisa, deixando no carro. Andou alguns metros, até que parou, olhou para o céu onde estava a lua, correu e deu um salto para dentro da mata, quase um mergulho. Ouviu-se um alto estalido.

Pêlo cinzento, era pouco maior que um cavalo.
Novamente corria solitário pela floresta escura. Alvaz, o lobo.

-